domingo, 29 de julho de 2012

A participação dos católicos nas eleições

“A autêntica ação política está profundamente enraizada na construção do bem comum da sociedade. Para nós, católicos, essa ação ... thumbnail 1 summary
“A autêntica ação política está profundamente enraizada na construção do bem comum da sociedade. Para nós, católicos, essa ação é consequência de nosso compromisso de levar o Evangelho ao dia a dia de nossa vida. Cabe-nos trabalhar incessantemente para buscar uma sociedade justa, fraterna e solidária. As frequentes notícias de corrupção, particularmente no mundo político, não podem tirar nossa esperança de alcançar esse fim – ao contrário, obrigam-nos a levar a luz da fé às realidades que formam o tecido social, buscando dar fim a tais fatos.” Assim começa a recente Nota da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, intitulada: “Orientações sobre a participação dos católicos nas eleições”.

Por que essas orientações e porque neste momento? A fundamentação teológica da Nota aparece em seu cabeçalho: “Antes de tudo, peço que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças, por todas as pessoas, pelos reis e pelas autoridades em geral, para que possamos levar uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador” (1ª Carta de Paulo a Timóteo 2,1-3). Pouco depois, lê-se a razão de sua preparação e divulgação: “Conscientes de que são necessárias grandes mudanças na vida pública, nós, membros do Conselho Presbiteral da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, tendo como referência a Mensagem da CNBB, intitulada “Eleições municipais de 2012”, de 21 de abril de 2012, sentimo-nos movidos a apresentar aos fiéis e às pessoas de boa vontade alguns critérios que julgamos conveniente serem observados, para que cada um exerça  com plena consciência e clareza o dever de votar”.

A Nota, que pode ser lida no “site” da Arquidiocese de Salvador (www.arquidiocesesalvador.org.br), aborda quatro questões: O valor do voto, Os partidos políticos, Os candidatos e O uso de espaços institucionais da Igreja.

No primeiro ponto, é lembrado que “O voto é uma forma especial de participar diretamente das escolhas políticas. Por meio dele, cada pessoa dá sua própria contribuição à construção do bem comum; portanto, de modo algum é lícito vendê-lo ou trocá-lo por favores pessoais”. Seguem, então, três recomendações: que haja uma reflexão individual e em grupos “sobre os critérios de escolha dos que podem receber seu voto”; que sejam avaliadas “com cuidado, as campanhas dos candidatos, a quantidade de dinheiro gasto e as promessas feitas” e que, uma vez eleitos, os eleitos sejam acompanhados, uma vez que a participação política “não pode se resumir ao voto nas eleições”.

A seguir, a Nota lembra que também devem ser analisados os partidos políticos, para saber se aquilo que defendem “é coerente com os valores que a comunidade política deve tutelar em busca do verdadeiro bem comum”.

O terceiro ponto começa com uma tradicional observação: “Nunca é demais ressaltar que a Igreja Católica, por força da sua missão universal, não tem partidos ou candidatos próprios; incentiva, sim, que o voto seja dado a candidatos que, por sua vida pública, competência e trajetória política gozam das condições requeridas para o exercício das funções que pleiteiam”.

No último ponto, defendendo “o direito e o dever do engajamento político dos fiéis leigos”, a Nota apresenta critérios para o uso de espaços da Igreja – por exemplo: “Os espaços de igrejas e organizações religiosas não devem ser cedidos para iniciativas de campanhas partidárias”.

As Orientações da Arquidiocese de Salvador terminam com uma observação e uma orientação. A observação: “O período das eleições, momento importante na vida da sociedade, deve ser marcado por um autêntico espírito democrático”; a orientação foi tirada da Carta aos Hebreus: “Deus vos torne aptos para todo bem, a fim de fazerdes sua vontade. Que ele realize em nós o que lhe é agradável, por Jesus Cristo, ao qual seja dada a glória pelos séculos do séculos. Amém!” (Hb 13,20-21).

Por último, o que poderia estar no início da Nota: quanto melhores forem os nossos políticos, melhor será a nossa sociedade. A escolha deles, não podemos nos esquecer, depende de nós.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

Fonte: Arquidiocese de São Salvador da Bahia
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