“A autêntica ação política está profundamente enraizada na
construção do bem comum da sociedade. Para nós, católicos, essa ação é
consequência de nosso compromisso de levar o Evangelho ao dia a dia de
nossa vida. Cabe-nos trabalhar incessantemente para buscar uma sociedade
justa, fraterna e solidária. As frequentes notícias de corrupção,
particularmente no mundo político, não podem tirar nossa esperança de
alcançar esse fim – ao contrário, obrigam-nos a levar a luz da fé às
realidades que formam o tecido social, buscando dar fim a tais fatos.”
Assim começa a recente Nota da Arquidiocese de São Salvador da Bahia,
intitulada: “Orientações sobre a participação dos católicos nas
eleições”.
Por que essas orientações e porque neste momento? A fundamentação
teológica da Nota aparece em seu cabeçalho: “Antes de tudo, peço que se
façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças, por todas as
pessoas, pelos reis e pelas autoridades em geral, para que possamos
levar uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e dignidade. Isto é
bom e agradável a Deus, nosso Salvador” (1ª Carta de Paulo a Timóteo
2,1-3). Pouco depois, lê-se a razão de sua preparação e divulgação:
“Conscientes de que são necessárias grandes mudanças na vida pública,
nós, membros do Conselho Presbiteral da Arquidiocese de São Salvador da
Bahia, tendo como referência a Mensagem da CNBB, intitulada “Eleições municipais de 2012”,
de 21 de abril de 2012, sentimo-nos movidos a apresentar aos fiéis e às
pessoas de boa vontade alguns critérios que julgamos conveniente serem
observados, para que cada um exerça com plena consciência e clareza o
dever de votar”.
A Nota, que pode ser lida no “site” da Arquidiocese de Salvador (www.arquidiocesesalvador.org.br), aborda quatro questões: O valor do voto, Os partidos políticos, Os candidatos e O uso de espaços institucionais da Igreja.
No primeiro ponto, é lembrado que “O voto é uma forma especial de
participar diretamente das escolhas políticas. Por meio dele, cada
pessoa dá sua própria contribuição à construção do bem comum; portanto,
de modo algum é lícito vendê-lo ou trocá-lo por favores pessoais”.
Seguem, então, três recomendações: que haja uma reflexão individual e em
grupos “sobre os critérios de escolha dos que podem receber seu voto”;
que sejam avaliadas “com cuidado, as campanhas dos candidatos, a
quantidade de dinheiro gasto e as promessas feitas” e que, uma vez
eleitos, os eleitos sejam acompanhados, uma vez que a participação
política “não pode se resumir ao voto nas eleições”.
A seguir, a Nota lembra que também devem ser analisados os partidos
políticos, para saber se aquilo que defendem “é coerente com os valores
que a comunidade política deve tutelar em busca do verdadeiro bem
comum”.
O terceiro ponto começa com uma tradicional observação: “Nunca é
demais ressaltar que a Igreja Católica, por força da sua missão
universal, não tem partidos ou candidatos próprios; incentiva, sim, que o
voto seja dado a candidatos que, por sua vida pública, competência e
trajetória política gozam das condições requeridas para o exercício das
funções que pleiteiam”.
No último ponto, defendendo “o direito e o dever do engajamento
político dos fiéis leigos”, a Nota apresenta critérios para o uso de
espaços da Igreja – por exemplo: “Os espaços de igrejas e organizações
religiosas não devem ser cedidos para iniciativas de campanhas
partidárias”.
As Orientações da Arquidiocese de Salvador terminam com uma
observação e uma orientação. A observação: “O período das eleições,
momento importante na vida da sociedade, deve ser marcado por um
autêntico espírito democrático”; a orientação foi tirada da Carta aos
Hebreus: “Deus vos torne aptos para todo bem, a fim de fazerdes sua
vontade. Que ele realize em nós o que lhe é agradável, por Jesus Cristo,
ao qual seja dada a glória pelos séculos do séculos. Amém!” (Hb
13,20-21).
Por último, o que poderia estar no início da Nota: quanto melhores
forem os nossos políticos, melhor será a nossa sociedade. A escolha
deles, não podemos nos esquecer, depende de nós.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Fonte: Arquidiocese de São Salvador da Bahia
Fonte: Arquidiocese de São Salvador da Bahia
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